quinta-feira, março 11, 2010
Sobre alaridos e hipócrisias
(publicado a 26 de Fev de 2010 no meu Facebook e actualizado)

Numa altura em que todos, sem excepção, fazem contas à vida, do custo/benefício de determinadas intervenções públicas e ou privadas, e mesmo do foro pessoal, faz-me espécie constatar o domínio da hipocrisia em matérias que, à partida, deveriam ser do senso daqueles que têm formação ou acção pública, social, empresarial e económica e que, face às circunstâncias, deviam equacionar estes mesmos factores.
Vi e ouvi na RTP Açores, há semanas o debate em que se falou justamente na questão custo/benefício do cais de cruzeiros de Angra. E mais: Das vantagens e desvantagens da requalificação urbana às vivências urbanas, sob pena de se criarem espaços de pura marginalização...
Em comparação - porque aqui, infelizmente, e dado o enfoque do "bota abaixo" político e meramente de cor partidária, que tenho visto desfilar em artigos de opinião, que quanto mais se publicam na comunicação impressa, mais me fazem crer do ruído e do desajeitado contra-informação dos novos e alegados "spin doctors" dos MEDIA...
Dizia eu, em comparação, a que deve ser feita com obras como o cais de Angra, das SCUT e mesmo da Fajã do Calhau (!!!), pergunto-me de tanto alarido à volta de uma questão como é o caso da possível construção de uma central de camionagem na Rua de Lisboa, em Ponta Delgada, que é uma obra necessária e só quem não usa os transportes públicos é que não sabe ou não quer saber disso?
Volumetrias à parte e impactos ambientais, que podem muito bem e devem ser (re)equacionados, que de mais há para discutir sobre uma obra que é benéfica para a cidade e sobretudo para quem usa os transportes públicos?
Durante 25 anos não conheci outro meio de deslocação que não as camionetas, tanto que ainda sei de cor alguns horários...
Hoje, vivo no centro da cidade e - imagine-se! - numa rua onde desfila cada vez mais cheia de si, a droga e a marginalização, quase em cima do Largo 2 de Março e mesmo ao lado da Rua de Lisboa.
E o que vejo e sinto actualmente? Um conjunto de guetos urbanos, mesmo em frente ao fechar de olhos de um palácio governamental, ao longo da Rua de Lisboa, da Rua de São Miguel, do Figueiredo e da Tabacaria Açoreana, da Rua Machado dos Santos, e do Supermercado Manteiga, policiado ao fim-de-semana, tal é o deserto... Locais, cuja passagem a pé ao fim do dia e aos fins-de-semana, merecem dos sentimentos de quem ali passa um autêntico misto de perigo e de aventura, tal é a massa de marginalização urbana em crescente expansão.
Das três, nenhuma: Ou não se faz porque não se quer fazer ou não se deve fazer, porque a alternativa proposta não fez parte de uma qualquer promessa de campanha eleitoral, tal como aconteceu em Angra, para onde se anunciou a grande obra que se quer fazer e que nem se diz como fazer, ou não se faz porque alguém, maior do que as bocas da reacção, não quer que se faça, para que Ponta Delgada caminhe para o deserto da margem Sul da ilha, porque o governo local não é da cor política de quem governa.
A discussão que se assiste em Angra - reconheceram os intervenientes do debate do Estado da Região - é, neste momento, meramente "estéril e académica". E o alarido à volta de uma central de autocarros, será o quê? Histérico?
Bom dia e que venham os anónimos do costume que eu cá fico a pensar em mais algumas outras coisas realmente importantes.

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Postado por Luísa Silva em 3/11/2010 |


6 Comments:


  • 12 março, 2010 10:24, Anonymous Alberto Freitas

    Isto é que é arrogância!
    À partida, já está a desvalorizar os comentários de quem aqui se der ao trabalho de procurar desmontar argumentos fracos, sectários e (parece) que encomendados por quem foi, afinal, a grande responsável pela desertificação de Ponta Delgada.
    Por mim, passo. E, já agora, Luísa, espero que não atire para o lixo este comentário, como costuma fazer aos que não lhe agradam.
    Meus, já foram dois.

     
  • 12 março, 2010 11:45, Blogger Luísa Silva

    Caro Alberto Freitas,

    Lamento que confunda por arrogância a minha frontalidade.
    Porque, não passa disto mesmo: de frontalidade.
    Quem me conhece e comigo convive, sabe que são estes os meus termos, os da frontalidade.
    Quanto à fraqueza de argumentos, volto a lamentar. Eu vivo aqui e com as realidades com que me deparo diariamente, é evidente que tenho opinião sobre o assunto que exponho. É a minha, vinco, minha opinião e, por isso, subjectiva e susceptível de ser criticada ou não pelos outros. Se é forte, se é fraca, se é assim assim, é a sua opinião. Se não, que motivação me levaria a falar do assunto? Não me julgue por ingénua tenho todo o direito à minha liberdade de expressão e, vinco, a minha.
    O que me leva a outras questões: as de sectarismos e das possíveis encomendas. E aí, felizmente, permita-me que discorde e até me aborreça.
    E lá voltamos ao mesmo, não nos conhecemos ou nos falamos pessoalmente, pois não?
    O que me parece é que está a julgar-me (será?) pela minha profissão neste momento que é pública pelo teor do seu ofício. Não deverá estar a julgar-me por quem sou como pessoa ou como cidadã deste município há 38 anos. Aí o seu julgamento terá o teor da sua sentença e não cabe a mim fazer recurso ou avaliação da mesma.
    O que escrevo neste blogue, quer goste quer não, reservo apenas para a minha identidade pessoal. Tenho direito às minhas opiniões, não me movo pela voz de outro dono, que não a minha. Se a acha fraquinha, olhe, triste de mim que a seu ver ande neste mundo com os meus próprios pés, que escreva pelas minhas mãos, sem termo nem aviso àqueles que (parece) terem-me feito uma encomenda, e que pense pela minha cabeça.
    Por fim, permita-lhe que lhe diga que (parece) que não "passou" a sua opinião para outra. No meu julgamento (deixe-me tê-lo, porque também tem o seu) opinou devidamente sobre o assunto e fez bem.
    A questão que aqui coloco pode dar azo a muitos tipos de opinião e sem preconceitos. Eu não os tenho, de qualquer tipo.
    Quanto aos anónimos, é verdade, guardo-os no chamado arquivo geral. Não sou dada a subterfúgios. Se diz que coloquei dois dos seus comentários no lixo, não me lembro, o que sei é que gosto pouco de indelicadezas e quando elas roçam a falta de educação nem penso duas vezes, coloco-as mesmo no tal arquivo geral. Se foi o seu caso, lamento, sou humana e da mesma forma que não lhe parece agradar o meu pensamento, sinto-me à vontade para por em causa a legitimidade da acusação gratuita que me possa ser feita por quem, não sendo anónimo, pode fazer passar-se por qualquer nome.
    A partidarite, o veneno e o preconceito são coisas que desprezo, porque fazem mal à saúde e prezo muito a que tenho.
    Por isso, publico o seu comentário, não pelo tom, porque dele não tenho medo, nem pela crítica a ele subentendida.
    Se, ao fim de tudo isto, não lhe agradar o meu comentário, pois paciência, não é obrigado a "levar" com ele.
    Se não gosta da maneira de me expressar, tem sempre remédio. Aliás já o teve o direito a dizer isto mesmo no seu. Pode sempre discutir sobre este assunto no seu blogue (se o tem) ou em outros que considere mais elevados que a minha frontal opinião.

     
  • 15 setembro, 2010 10:59, Anonymous António Costa

    Cara Luísa,
    O seu pecado original é ser quase mais bertista do que a Berta. E isso, ao tornar-se evidente no que escreve, não só prejudica a mensagem que quer fazer passar, como se torna patético.
    A Luísa não está a manifestar opiniões de mera cidadã, está a defender ideias e opções que, sendo de outrém, fazem de si uma cidadã com outros interesses nestes assuntos.
    Está, sem o dizer claramente, a atirar para o Governo Regional
    as responsabilidades de quem fez de Ponta Delgada uma cidade inóspita e agressiva.
    Com todo o respeito, olhe melhor á sua volta na Câmara de Ponta Delgada. Está aí a pessoa a quem deve apontar o dedo.
    Finalmente, quero dizer-lhe que não serve de nada rotular-se, a si própria, de independente, isenta ou o que quer que lhe dê jeito para camuflar a sua camarária militância: - já todos percebemos em que equipa joga.

     
  • 20 outubro, 2010 13:53, Blogger Luísa Silva

    Caro "António Costa", antes de mais, agradeço o comentário. (Permita-me que coloque o seu nome entre aspas, apenas porque não encontro qualquer referência a si na internet, "António(s) Costa(s)" há muitos).
    Como deverá saber, a obra da central de camionagem fica a aguardar por melhores dias. E poderíamos ficar aqui o tempo todo, tal como em Comissão de Assembleia Regional, a elaborar sobre o porquê desta afirmação.
    É a crise que, de doença crónica, passou a ser fatal; é a política; são as partidarites; é uma série de coisas que já foram faladas, noticiadas e debatidas publicamente.
    Como cidadã - que sou, e você não tem o direito, nem a moralidade de me retirar isto - tenho muita pena que não possa ser já.
    De resto (e quem não se sente, não é filho de boa gente), por muito que lhe custe ou não, falo por mim, não preciso, nem tenho livro de instruções para falar doutra maneira. Daí que lamente informar-lhe que não sou a Dra. Berta Cabral. Tenho sim, uma profissão que conduzo com o sentido: a de servir os interesses da instituição para quem trabalho, e para quem esta trabalha. A isto, na minha actividade chama-se de ética (há livros sobre o assunto), que as pessoas terão a liberdade de avaliar.
    Contudo, esta ética parece ser coisa coisa que o senhor não tem quando se refere à minha pessoa nos modos em que o fez, sem o mínimo esforço de separar a minha identidade do meu ofício.
    Felizmente que, para si, esta incapacidade de distinção e de julgamento não é um mal só seu, é geral nas sociedades, um mal das civilizações ditas modernas, mas que, na verdade, não se conseguem livrar do preconceito das normas que lhes são impostas, da educação tosca a que foram sujeitas.
    A educação, caro Sr. não vem do berço, cultiva-se, respeita-se.

     
  • 20 outubro, 2010 14:27, Blogger Luísa Silva

    Caro Tiago R. (seja lá quem for o Tiago R. com aspas ou sem elas), obrigada por se preocupar tanto com a minha escrita. Realmente não se admite. Nesta vida estamos sempre a aprender (disto sou apologista). Por isso, pergunto-lhe, com toda a humildade, se tem algum contacto que me possa ceder para eu poder tirar consigo algumas das dúvidas sobre a língua portuguesa?
    Grata pela atenção.

     
  • 04 fevereiro, 2011 22:07, Anonymous Anónimo

    Qual o receio de pedir a especialistas de transportes um estudo... provavelmente o receio de apontarem 3 localizações e não uma central... concerteza não seria naquele local...