terça-feira, junho 09, 2009
Abstenção inflaccionada

Aqueles que, há poucos meses, não queriam saber da abstenção para nada estão agora a fingir-se preocupados com o problema. As derrotas eleitorais têm destas coisas.

Mas também temos muitos pessoas que demonstram uma genuína preocupação com o assunto, embora algumas se limitem a criticar sem sequer tentar perceber o que está em causa.

Se quisermos, de facto, discutir a abstenção nos Açores temos de começar por analisar as estatísticas sobre a população residente e compará-las com o anormal aumento do número de eleitores registado nos últimos meses.

Os Açores têm mais de 244 mil habitantes. Destes, mais de 46 mil têm menos de 14 anos. Se lhes juntarmos mais alguns milhares de jovens com idades compreendidas entre os 14 e os 17 anos, facilmente concluímos que a população menor de 18 anos representa mais de 20 por cento população.

Como é então possível que, de Outubro passado para cá, o número de eleitores tenha aumentado de 193 mil para 225 mil?

A pergunta fica no ar para ser respondida ou debatida por quem quer, verdadeiramente, discutir o problema da abstenção.

"Bater" nos políticos ou no povo é fácil. Perceber qual é o valor real da abstenção já dá muito trabalho.

Esta abstenção de quase 80 por cento está inflaccionada.

 
Postado por Rui Lucas em 6/09/2009 |


3 Comments:


  • 09 junho, 2009 10:58, Blogger Tiago R.

    A questão das transferências automáticas no recenseamento é um factor que, de facto, veio inflaccionar a abstenção, mas não explica tudo.

    Até porque se retirassemos, vá lá, 30.000 inscritos, continuaríamos a ter uma abstenção de 74%. Continua a ser um valor demasiado grande para ser ignorado.

     
  • 09 junho, 2009 13:03, Blogger Tibério Dinis

    Caro Rui Lucas,

    este aumento de inscritos é mais real do que surreal e facilmente explicado. sem dúvida que o número de inscritos nestas eleições foi o mais real desde sempre.

    Quanto a óbitos, o sistema ainda não é automático, está longe de ser perfeito. Mas p.e. só em 1998 foram eliminados um milhão de eleitores, em 2001 foram 125 mil. Agora com este aumento de inscritos, foram também eliminados quase 200 mil inscritos.

    Quanto aos novos eleitores, são apenas pessoas que tinham BI o CC com residência e não estava inscrito. Não foram adicionados mortos, mas foram adicionados emigrantes e pessoas que não actualizam os documentos.

    Não foram só os de 18 anos que foram adicionados, foram adicionados também pessoas com outras idades, mas que não tinham recenseamento.

    Nos Açores esta diferença é maior devido aos emigrantes que têm BI ou CC, alguns podem ter emigrado há 30 anos p.e. e é esta faixa que pode ser discutivel. P.e. foram adicionados milhares de estudantes açorianos no continente que antes não estavam recenseados e agora não votam.

    Mas, mesmo assim, a lei foi unanimemente aprovada por todos os partidos que agora criticam. Quanto aos emigrantes, não o podemos excluir com a base legal e constitucional que temos.

    O problema é que os partidos só querem saber da abstenção quando interessa, nas regionais foi o PSD, agora é o PS.

    Haja Saúde

     
  • 10 junho, 2009 13:19, Anonymous Anónimo

    Há muita gente com mais de 18 anos, nomeadamente entre os 18 e os 65 que nunca se tinha recenseado. Destes muitos há que, não tendo feito o cartão de cidadão, continuam por não contabilizar para a abstenção.
    A Abstenção registada, apesar de gigantesca, não corresponde exactamente à dimensão real não só da abstenção potencial, como à alienação dos cidadãos que, volvidos 34 anos da implementação do regime democrático, até hoje nunca se recensearam.