Aqueles que, há poucos meses, não queriam saber da abstenção para nada estão agora a fingir-se preocupados com o problema. As derrotas eleitorais têm destas coisas.
Mas também temos muitos pessoas que demonstram uma genuína preocupação com o assunto, embora algumas se limitem a criticar sem sequer tentar perceber o que está em causa.
Se quisermos, de facto, discutir a abstenção nos Açores temos de começar por analisar as estatísticas sobre a população residente e compará-las com o anormal aumento do número de eleitores registado nos últimos meses.
Os Açores têm mais de 244 mil habitantes. Destes, mais de 46 mil têm menos de 14 anos. Se lhes juntarmos mais alguns milhares de jovens com idades compreendidas entre os 14 e os 17 anos, facilmente concluímos que a população menor de 18 anos representa mais de 20 por cento população.
Como é então possível que, de Outubro passado para cá, o número de eleitores tenha aumentado de 193 mil para 225 mil?
A pergunta fica no ar para ser respondida ou debatida por quem quer, verdadeiramente, discutir o problema da abstenção.
"Bater" nos políticos ou no povo é fácil. Perceber qual é o valor real da abstenção já dá muito trabalho.
Esta abstenção de quase 80 por cento está inflaccionada.
A questão das transferências automáticas no recenseamento é um factor que, de facto, veio inflaccionar a abstenção, mas não explica tudo.
Até porque se retirassemos, vá lá, 30.000 inscritos, continuaríamos a ter uma abstenção de 74%. Continua a ser um valor demasiado grande para ser ignorado.