Não gosto de ver uns tipos espetarem ferros num touro. É um espectáculo que dispenso. Seria-me indiferente que as touradas fossem proibidas amanhã, embora saiba que, sem estas, o destino do touro como espécie estaria traçado: extinguir-se-ia.
Não gosto da hipocrisia de alguns que aceitam as bandarilhas, mas fazem campanha contra a sorte de varas. Entre os defensores do "Não" só é minimamente coerente quem também contesta as touradas.
Não gosto da intolerância demonstrada por algumas pessoas que contestam a sorte de varas. Julgam-se detentores de uma superioridade moral que ninguém pode ousar contrariar. Querem um mundo asséptico. Hoje é a sorte de varas, amanhã as touradas e depois talvez até reivindiquem uma nova lei seca.
Não gosto de pessoas que, numa chamada questão de consciência, se comprometem com um determinado sentido de voto e depois o alteram radicalmente. E tudo porque o chefe, que até deu liberdade de voto, disse que não gostava. É falta de carácter. A verdade é que a tal liberdade de voto foi muito condicionada num partido. Que raio de democracia é esta?
Não gosto de certos defensores da sorte de varas que recusam os argumentos de alguns activistas do "Não" só porque estes são naturais da ilha de São Miguel. Este assunto diz respeito a todos os açorianos. O bairrismo é um dos cancros dos Açores.
Não gosto que a primeira iniciativa que explora os novos poderes que constam do Estatuto Político-Administrativo dos Açores seja sobre a legalização das touradas picadas. Temo que seja dar trunfos aos centralistas de Lisboa.
Não gosto que se ande há semanas a falar neste tema sem nunca ter ouvido um debate sério sobre o assunto. As posições extremaram-se, o que nunca é bom.
Não gosto que se transforme esta questão da sorte de varas num tema central da sociedade açoriana, porque não o é. Gostaria que houvesse tanta mobilização cívica em prol de assuntos bem mais importantes.
Enfim, não gosto.Se tivesse que votar abstinha-me. É um sentido de voto tão legítimo como outro qualquer.
Não, Rui. neste caso concreto e com as "espingardas" contadas, abester-se é votar a favor. Neste caso a abestenção não é legitima é um lavar de mãos, coisa que abundou neste pouco pretigiante processo.