quarta-feira, maio 13, 2009
Pouca sorte

Não gosto de ver uns tipos espetarem ferros num touro. É um espectáculo que dispenso. Seria-me indiferente que as touradas fossem proibidas amanhã, embora saiba que, sem estas, o destino do touro como espécie estaria traçado: extinguir-se-ia.

Não gosto da hipocrisia de alguns que aceitam as bandarilhas, mas fazem campanha contra a sorte de varas. Entre os defensores do "Não" só é minimamente coerente quem também contesta as touradas.

Não gosto da intolerância demonstrada por algumas pessoas que contestam a sorte de varas. Julgam-se detentores de uma superioridade moral que ninguém pode ousar contrariar. Querem um mundo asséptico. Hoje é a sorte de varas, amanhã as touradas e depois talvez até reivindiquem uma nova lei seca.

Não gosto de pessoas que, numa chamada questão de consciência, se comprometem com um determinado sentido de voto e depois o alteram radicalmente. E tudo porque o chefe, que até deu liberdade de voto, disse que não gostava. É falta de carácter. A verdade é que a tal liberdade de voto foi muito condicionada num partido. Que raio de democracia é esta?

Não gosto de certos defensores da sorte de varas que recusam os argumentos de alguns activistas do "Não" só porque estes são naturais da ilha de São Miguel. Este assunto diz respeito a todos os açorianos. O bairrismo é um dos cancros dos Açores.

Não gosto que a primeira iniciativa que explora os novos poderes que constam do Estatuto Político-Administrativo dos Açores seja sobre a legalização das touradas picadas. Temo que seja dar trunfos aos centralistas de Lisboa.

Não gosto que se ande há semanas a falar neste tema sem nunca ter ouvido um debate sério sobre o assunto. As posições extremaram-se, o que nunca é bom.

Não gosto que se transforme esta questão da sorte de varas num tema central da sociedade açoriana, porque não o é. Gostaria que houvesse tanta mobilização cívica em prol de assuntos bem mais importantes.

Enfim, não gosto.Se tivesse que votar abstinha-me. É um sentido de voto tão legítimo como outro qualquer.

 
Postado por Rui Lucas em 5/13/2009 |


7 Comments:


  • 13 maio, 2009 09:29, Blogger Nuno Barata

    Não, Rui. neste caso concreto e com as "espingardas" contadas, abester-se é votar a favor. Neste caso a abestenção não é legitima é um lavar de mãos, coisa que abundou neste pouco pretigiante processo.

     
  • 13 maio, 2009 09:42, Blogger Tibério Dinis

    Caro Rui,

    a valoração que se atribui à Sorte de Varas e às bandarilhas é diferente, o legislador nacional sentenciou esta diferença, o público nas Praça também prova esta diferença e as tradições locais também. Há uma diferença clara e a história legislativa e política da Sorte de Varas em Portugal desde D.Maria II vagueia nesta diferença. Se o Rui acha que não há diferença tudo bem.

    Outra coisa, é que iremos aumentar o sofrimento do toiro, numa altura em que talvez devíamos começar a perceber as nossas próprias tendências (quando há muitos que não apreciam) e as internacionais - que condenam as touradas, e, começar a pensar em forma de aos poucos ir reduzindo o sofrimento do toiro. Em vez disso, preferimos aumentá-lo.

    É semelhante à proibição da caça da baleia, pensávamos que vivíamos sozinhos no mundo e nunca nos preocupamos aos poucos de redireccionar actividade económica, limitar aos poucos a caça, criar actividades subsidiárias. Depois, cai a comunidade internacional em cima e ficamos à rasca - ainda hoje estamos a recuperar da falta de sensibilidade política da época em preparar uma transição. Alguém imagina uns Açores hoje no sec XXI com caça à baleia, era o terror do nosso turismo, nem tínhamos turismo.

    Relativamente à mobilização cívica é simples, há coisas bem mais importantes nos Açores é verdade. Só que a própria política explica e debate. O processo legislativo da Sorte de Varas demorou 13 dias úteis, se ninguém tenta mexer com nada, o projecto passa e ninguém dá por nada. Analisar a mobilização sem ter em conta as características de cada processo legislativo é comparar coisas incomparáveis, talvez porque os processos mais lentos comportam uma maior discussão e explicação do tema à sociedade açoriana.

    Acredite nos 13 dias úteis de processo legislativo da Sorte de Varas se não há mobilização cívica, ai sim, os açorianos estariam ainda mais às escuras.

    Haja Saúde

     
  • 13 maio, 2009 11:15, Blogger Rui Lucas

    Meus caros, não tenho tempo para entrar em debate convosco. Mas posso sossegar-vos, já que tudo indica (a esta hora) que a sorte de varas não vai ser legalizada.

    Abraço

     
  • 14 maio, 2009 01:16, Blogger Mário Moniz

    Espero bem que não seja legalizada.
    Só lamento que não o seja com uma votação retumbante, que demonstrasse a nossa elevação cívica e consciência humanitária, por um lado e a nossa maturação política contra centralismos arcaicos, por outro.

    http://livrecomoovento.blogs.sapo.pt/

     
  • 14 maio, 2009 15:06, Anonymous Anónimo

    Em relação a sorte de varas nos Açores a verdade e esta se as touradas fossem em São Miguel aprova-se logo, mas como e na ilha Terceira corta-se já.E preciso esclarecer isto tudo, porque vai mexer com o Turismo, que alguns não aceitam porque pensam que vai roubar o Turismo da Terceira e de outras ilhas onde se realizam as touradas de praça para irem para São Miguel. E para aqueles que defendem os direitos dos animais os touros sao criados para serem lidados na praça ou a corda nos caminhos da Terceira e de algumas ilhas dos AÇORES para quem se diz Açoreano e claro, que e para isso que estes animais sao criados porque se nao eram extintos. A VERDADE E ESTA MEUS SENHORES, VERGONHA E COMPARAR ANIMAIS COM PESSOAS. Um abraço para aqueles que lutam pelos direitos e desenvolvimento dos Açores e principalmente da ilha Terceira. OBRIGADO

     
  • 14 maio, 2009 16:42, Anonymous Terceirense

    O anónimo anterior procura confundir "elevação cívica e consciência humanitária" com bairrismo. É um falso e atamancado argumento. Veja lá quantos palhaços de S. Miguel votaram a favor. Tenha dó.

     
  • 14 maio, 2009 20:54, Blogger Rui Lucas

    Caro anónimo "Terceirense", "elevação cívica" também é respeitar as posições dos outros. Palhaços são aqueles que insultam os outros e não dão a cara. E neste processo da sorte de varas todos os deputados deram a cara, independentemente da opção de voto.