sábado, janeiro 12, 2008
A encenação

Tanto bastou para que as hostes tocassem a rebate, tendo mobilizado mesmo os mais diversos sectores, designadamente empresariais, que não hesitaram em fazer autênticas romarias a Santana, pedindo a César para reconsiderar e permanecer à frente dos destinos socialistas.

Não, nada disto se está a passar esta semana. Terá acontecido em Março de 2003, período de que data o primeiro pseudo-tabu de Carlos César. Como a memória de alguns é curta, recordo o que se passou. Numa reunião com destacados dirigentes do PS, na casa de um deles, César disse ter recebido um convite "praticamente irrecusável" para ocupar um cargo em Bruxelas. Foi o que bastou para semear o pânico nesse grupo de dirigentes. Rapidamente a revelação do presidente do PS foi soprada para os média, nomeadamente a Antena 1/Açores, que noticiou o assunto.

Durante vários dias o tema marcou a actualidade informativa, ao mesmo tempo que as hostes socialistas desesperavam. Mas, a 22 de Março, César desfez as dúvidas: era novamente candidato e desmentiu a existência de qualquer convite de Bruxelas, contrariando o que dissera em privado a companheiros de partido.

Tratou-se uma encenação que surtiu efeito durante alguns dias, embora não tenha passado disso mesmo, de uma mera encenação.

Quase cinco anos depois, a encenação repete-se. O argumento é diferente, mas o objectivo o mesmo - tentar criar uma vaga de fundo de apoio à sua recandidatura.

A tal vaga de fundo pretendida deveria ter surgido em Dezembro, mas foi um acto falhado. O impacto da divulgação de uma curiosa sondagem foi praticamente nulo e a formação de uma lista de apoiantes constituída por cidadãos sem filiação partidária também não criou a esperada "onda".

Nem dentro do PS essa vaga de fundo apareceu, pois todos os socialistas estão convencidos da intenção de César em se recandidatar - e só os militantes ingénuos ou sem memória do que se passou em 2003 acreditam que o seu presidente pode agora bater com a porta.

Sem vaga de fundo, eis que surge a encenação. Quinta-feira, por volta das seis e meia da manhã, a Agência Lusa noticia que César está a impor condições, sem especificar quais, ao PS nacional para se recandidatar - os socialistas de Lisboa dizem que não sabem de nada. E ao final da manhã o PS/Terceira anuncia o cancelamento do jantar em que o presidente do PS/Açores iria anunciar a recandidatura. Durante o resto do dia, fontes do PS iam revelando aos jornalistas os motivos mais díspares para esta situação: uns dizem que é por causa de eventuais dúvidas levantadas pelo PS nacional sobre a proposta de revisão do Estatuto, outro apontam o actual sentimento de insegurança na Região.

A questão da segurança pública não pode levar um governante a bater com a porta, mas sim a empenhar-se com todas as forças na resolução do problema.

Em relação ao Estatuto, na reunião realizada quarta-feira na Assembleia da República, entre deputados regionais e nacionais, ninguém levantou dúvidas, pois o assunto foi apenas analisado de forma genérica. Não se discutiu a proposta de revisão na especialidade, ou seja, não se debateu o diploma artigo a artigo.

Como se pode ver, tudo isto soa a algo demasiado forçado. Aliás, não resisto a escrever que esta encenação, comparada com a de 2003, é perfeitamente amadora.

Resta apenas saber até onde vai a encenação. Ou termina até dia 15 - data limite para a entrega de candidaturas às directas do PS - ou vai prolongar-se por mais tempo, criando um vazio de poder no partido e originando "autênticas romarias a Santana", permitindo a César, depois de ser apaparicado, surgir, a tempo das regionais de Outubro, como uma espécie de salvador da pátria.

Sejam quais forem os próximos capítulos desta peça, é certo que César vai recandidatar-se, após sujeitar os açorianos a mais uma triste encenação, que não passa, no fundo, de uma brincadeira de mau gosto.

 
Postado por Rui Lucas em 1/12/2008 |


4 Comments:


  • 12 janeiro, 2008 12:40, Anonymous Anónimo

    Como jornalista você está mesmo mal informado. Como assessor inventa casos e circunstâncias a ver se mostra trabalho.Mas há um pormenor no qual tem razão. c
    César vai candidatar-se, vai ganhar as eleições e você ficará pendurado na dúvida metódica de um regresso às origens...

     
  • 12 janeiro, 2008 21:37, Anonymous Anónimo

    César sabe que vai ser díficil ganhar as próximas eleições, por duas razões:
    1ª - por continuar a apoiar a politica destrutiva e anti-autonomista de Sócrates;
    2ª - por ter desperdiçado uma grande oportunidade de desenvolver os Açores e elevá-lo para um novo patamar da autonomia, não obstante os inúmeros milhões (de impostos locais e fundos europeus)
    que tem tido à sua disposição.
    César em desespero - e não querendo deixar orfãos todos aqueles que lhe devem favores - vai recandidatar-se num ambiente muito partidário e psicótico, poderá ganhar ou não as eleições, e se ganhar vai ter que negociar com algum dos partidos pequenos, pois não vai ter maioria absoluta.
    Não façam sondagens, pois é dinheiro desperdiçado.
    O destino do César já está traçado: sair pela porta pequena como saiu o Mota Amaral...
    O egocentrismo e a arrogância balofa acabam sempre mal...
    É a História que o diz.

     
  • 13 janeiro, 2008 13:57, Anonymous Anónimo

    Este Lucas é um triste sem credibilidade nenhuma. Até dá vontade de rir. Devia ter vergonha de se dizer jornalista.

     
  • 13 janeiro, 2008 14:47, Anonymous Anónimo

    Estes desencontros com o PS Lisboeta fazem lembrar o episodio da divida da Republica à RAA em que afinal ficou por descobrir o mentiroso ... ou seja, ninguem mentiu, falavam de coisas diferentes, obviamente, ...