Não, nada disto se está a passar esta semana. Terá acontecido em Março de 2003, período de que data o primeiro pseudo-tabu de Carlos César. Como a memória de alguns é curta, recordo o que se passou. Numa reunião com destacados dirigentes do PS, na casa de um deles, César disse ter recebido um convite "praticamente irrecusável" para ocupar um cargo em Bruxelas. Foi o que bastou para semear o pânico nesse grupo de dirigentes. Rapidamente a revelação do presidente do PS foi soprada para os média, nomeadamente a Antena 1/Açores, que noticiou o assunto.
Durante vários dias o tema marcou a actualidade informativa, ao mesmo tempo que as hostes socialistas desesperavam. Mas, a 22 de Março, César desfez as dúvidas: era novamente candidato e desmentiu a existência de qualquer convite de Bruxelas, contrariando o que dissera em privado a companheiros de partido.
Tratou-se uma encenação que surtiu efeito durante alguns dias, embora não tenha passado disso mesmo, de uma mera encenação.
Quase cinco anos depois, a encenação repete-se. O argumento é diferente, mas o objectivo o mesmo - tentar criar uma vaga de fundo de apoio à sua recandidatura.
A tal vaga de fundo pretendida deveria ter surgido em Dezembro, mas foi um acto falhado. O impacto da divulgação de uma curiosa sondagem foi praticamente nulo e a formação de uma lista de apoiantes constituída por cidadãos sem filiação partidária também não criou a esperada "onda".
Nem dentro do PS essa vaga de fundo apareceu, pois todos os socialistas estão convencidos da intenção de César em se recandidatar - e só os militantes ingénuos ou sem memória do que se passou em 2003 acreditam que o seu presidente pode agora bater com a porta.
Sem vaga de fundo, eis que surge a encenação. Quinta-feira, por volta das seis e meia da manhã, a Agência Lusa noticia que César está a impor condições, sem especificar quais, ao PS nacional para se recandidatar - os socialistas de Lisboa dizem que não sabem de nada. E ao final da manhã o PS/Terceira anuncia o cancelamento do jantar em que o presidente do PS/Açores iria anunciar a recandidatura. Durante o resto do dia, fontes do PS iam revelando aos jornalistas os motivos mais díspares para esta situação: uns dizem que é por causa de eventuais dúvidas levantadas pelo PS nacional sobre a proposta de revisão do Estatuto, outro apontam o actual sentimento de insegurança na Região.
A questão da segurança pública não pode levar um governante a bater com a porta, mas sim a empenhar-se com todas as forças na resolução do problema.
Em relação ao Estatuto, na reunião realizada quarta-feira na Assembleia da República, entre deputados regionais e nacionais, ninguém levantou dúvidas, pois o assunto foi apenas analisado de forma genérica. Não se discutiu a proposta de revisão na especialidade, ou seja, não se debateu o diploma artigo a artigo.
Como se pode ver, tudo isto soa a algo demasiado forçado. Aliás, não resisto a escrever que esta encenação, comparada com a de 2003, é perfeitamente amadora.
Resta apenas saber até onde vai a encenação. Ou termina até dia 15 - data limite para a entrega de candidaturas às directas do PS - ou vai prolongar-se por mais tempo, criando um vazio de poder no partido e originando "autênticas romarias a Santana", permitindo a César, depois de ser apaparicado, surgir, a tempo das regionais de Outubro, como uma espécie de salvador da pátria.
Sejam quais forem os próximos capítulos desta peça, é certo que César vai recandidatar-se, após sujeitar os açorianos a mais uma triste encenação, que não passa, no fundo, de uma brincadeira de mau gosto.
Como jornalista você está mesmo mal informado. Como assessor inventa casos e circunstâncias a ver se mostra trabalho.Mas há um pormenor no qual tem razão. c
César vai candidatar-se, vai ganhar as eleições e você ficará pendurado na dúvida metódica de um regresso às origens...