Confesso: Este é o meu primeiro “diálogo”, completo, com Salman Rushdie. Houve, há mais de uma década, uma tentativa de me “encontrar” com o autor, mas sem sucesso. Em 1989, o mundo islâmico sentenciava – com “pena de morte” - um escritor devido a um livro intitulado “Versículos Satânicos”. Com 15/16 anos de idade, achava um absurdo o que Ayatollah Khomeini queria fazer ao “desgraçado do homem”. Interessava pela actualidade internacional e, sobretudo, vivia intensamente os ventos de Leste, nomeadamente as incursões do saudoso Gorbachov. Como a maioria dos adolescentes, adorava colocar em causa o “sistema” por tudo e por nada. Tinha uma postura contra qualquer tipo de fanatismo político ou social. Era uma espécie de niilismo. Tudo isto resultou numa enorme curiosidade em ler o livro. Consegui a, famosa, obra. Lembro-me do olhar “assustador” de alguns colegas, quando me viram (a ouvir Heavy Metal, vestido de preto com uma t-shirt dos Metallica, com caveiras e tudo) a ler um livro chamado “Versículos Satânicos”. Imagino o que pensaram. Ouvir Heavy Metal, no Pico, em 1989, era raro e muito pouco aplaudido. Vivíamos sob a batuta da sinfonia moralista de Mota Amaral!
Apesar de algumas tentativas, não consegui ler o livro. Não consegui. Já tinha lido vários escritores, mas aquele livro não entrou. Ficou á porta!!! Desisti. Com 16 anos não tive força intelectual suficiente.
16 anos depois, reencontro-me com Salman Rushdie, mas com outro olhar, com outra maturidade e sem Heavy Metal, longe disso!!!!. Estes dias optei por Bob Dylan e Oscar Peterson. Como escreveu o João Nuno Almeida e Sousa, no :ilhas: “O livro requer alguma tenacidade e paciência mas a leitura é gratificante”. Concordo! O caminho está aberto para outras leituras de Salman!!!
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“ Há ponto de partida de uma narrativa que atravessa seis décadas contadas a partir dos primeiros estertores do domínio colonial britânico na Índia. A história, pode-se dizer, tem os ingredientes de um épico: vai da França ocupada pelos nazis ao advento do Paquistão, tendo Caxemira como pano de fundo e, por referência central, o radicalismo das idiossincrasias islâmicas” (Da Literatura)
Caro Rui,
...se gostou deste Rushdie não perca tempo e atire-se à obra-prima que é "O Último Suspiro do Mouro" (enquanto "tugas" é impossível não nos envaidecermos com o nosso sangue nas genealogias do livro). Perturbante é também o insólito e breve livro que precede o 11 de Setembro : "A Fúria".
JNAS