terça-feira, setembro 05, 2006
Açorianidade

Com as comemorações do trigésimo aniversário da realização da primeira sessão legislativa da Assembleia Regional dos Açores, a comunicação social e opinion makers (basicamente estes e não acredito que muitos mais...) chamaram à "ordem do dia" temas como a importância da instituição representativa da Autonomia Regional, a sua eficácia, a sua missão. Enfim, temas que importa sempre reflectir e sublinhar, sobretudo, quando esta efeméride atinge um número redondo, assinalado com pompa e circunstância na sala de plenário.

No rescaldo, ficaram os directos, as reportagens de rádio, de televisão e dos jornais relativamente ao que foi a cerimónia e os discursos que mais ou menos a marcaram.

Tudo isto, para referir aquilo que me ficou de todos os relatos que ouvi, vi e li (por esta ordem mesmo). Marcaram-me, sobretudo, as declarações de Reis Leite, uma das mais emblemáticas figuras que passaram pela presidência da instituição, que concluia pela falta de cidadania que se assiste nos Açores relativamente à actividade política e aos próprios factos que marcam a autonomia.

Por outro lado, confesso que chorei a rir, quando um popular questionado pela RTP/A se sabia o que faziam os deputados na Assembleia, respondeu sorridente "que alguns estão lá a dormir, e outros acordados".

Ficou-me também no pensamento o "Contra Opinião" do Manuel Moniz, no Diário dos Açores de hoje, em que acrescenta "um pequeno detalhe" ao debate sobre a açorianidade e autonomia quando questiona sobre o que "está a falhar nesta coisa da açorianidade" ao indagar, por exemplo, "quantos dos deputados cantaram com afinco o Hino dos Açores".

O que me fica de tudo isto, é que a autonomia e a açorianidade, a cidadania para a autonomia, são questões que os próprios representantes democráticos devem fazer a si próprios e também à sociedade cívil, responsabilizando-nos a todos. O debate desta questão, que é bastante importante, para bem da nossa identidade deve começar já. E pode mesmo começar nos bancos de escola, lugar, onde, há anos, os responsáveis debatem a introdução da história dos Açores no curriculo de ensino.

Deixemo-nos de estudos e adiamentos, passemos a ser açorianos de facto.

 
Postado por Luísa Silva em 9/05/2006 |


8 Comments:


  • 05 setembro, 2006 15:05, Blogger Paulo Ribeiro

    Na realidade o que falta à Autonomia é cumpri-la. Isto é, fazer dela uma questão de todos os açorianos e fazer com que estes se sintam parte dela. Os açorianos não podem continuar a olhar a instituição autonómica como olham para a Comissão Europeia ou para o Parlamento Europeu, ou seja, algo distante e que nada tem a ver connosco. Cabe à classe dirigente contribuir para que isto não continue a contecer...

     
  • 05 setembro, 2006 17:46, Blogger JNAS

    ...há por aí muita "açorianidade" postiça de braço dado com outros tantos Açorianos de ocasião. Quanto ao resto o parlamento tem sido dolosamente reduzido a uma espécie de salão dourado do poder Regional onde, de quando em vez, o poder outorga a graça de comparecer para desfilar no papel de magnânimo timoneiro do povo destas ilhas...outras vezes consideram tal encargo "inoportuno".

     
  • 05 setembro, 2006 17:46, Blogger JNAS

    ...há por aí muita "açorianidade" postiça de braço dado com outros tantos Açorianos de ocasião. Quanto ao resto o parlamento tem sido dolosamente reduzido a uma espécie de salão dourado do poder Regional onde, de quando em vez, o poder outorga a graça de comparecer para desfilar no papel de magnânimo timoneiro do povo destas ilhas...outras vezes consideram tal encargo "inoportuno".

     
  • 05 setembro, 2006 17:46, Blogger JNAS

    ...há por aí muita "açorianidade" postiça de braço dado com outros tantos Açorianos de ocasião. Quanto ao resto o parlamento tem sido dolosamente reduzido a uma espécie de salão dourado do poder Regional onde, de quando em vez, o poder outorga a graça de comparecer para desfilar no papel de magnânimo timoneiro do povo destas ilhas...outras vezes consideram tal encargo "inoportuno".

     
  • 05 setembro, 2006 20:42, Blogger Caiê

    Ai, são dois dramas pungentes aqui presentes (não queria rimar, mas não posso resistir, é para combinar com a prosa).
    O primeiro está na introdução da História dos Açores no currículo escolar - antes de se lhes ensinar tal, há que ensinar os meninos e meninas a escrever português. Ora, tem-se visto que eles chegam a adultos e ao exercício das suas profissões sem escreverem como deve ser. É uma calamidade! Ora, imagino o que seria estas personagens a escreverem sobre a História dos Açores com a pontuação mal colocada... Todos sabemos a diferença de sentido que faz. eheheh! Ai, as maldades que se fariam, deuses! E na mais santa inocência, pelo que julgo.
    Outro drama é a utilização das palavras "açorianidade" e "identidade" em conjungação com "hino". A identidade de um povo é o seu hino? Não vai mais longe? Não será outra coisa, de menos militar? Ou o hino é, tão só, uma convenção? Eu cá nunca choraminguei a ouvir nenhum hino, mas já chorei a ver o mar.
    Cumprimentos.

     
  • 06 setembro, 2006 09:50, Blogger Luísa Silva

    Concordo com as suas palavras Paulo J. Ribeiro. Neste momento, muitos açorianos - e não me refiro apenas às gerações mais jovens - olham a Autonomia com a mesma distância com que olham para as instituições europeias, sem a entender, sem a distinguir da sua ligação com o Estado de Direito...
    Admito mesmo que algum trabalho tem sido feito pela Assembleia Legislativa Regional e por algumas instituições políticas e sociais no sentido de divulgá-la para aproximá-la mais das pessoas. Contudo, continua a parecer-me que falta a pedagogia da Autonomia que - no caso dos Açores - é, sem sombra de dúvida parte da nossa identidade, cidadania e consequentemente, da nossa açorianidade.
    Tal como o hino açoriano. Caiê, é evidente que a nossa entidade vai mais além daquilo que chama convenção. Se todos soubessemos interpretar além das rimas e das palavras, talvez tívessemos maior brio em sermos quem somos, tal como são alguns povos do chamado mundo desenvolvido.

     
  • 06 setembro, 2006 18:15, Anonymous Anónimo

    Falta o Orgulho de ser Açoriano, mas por detrás disso está outra falta ainda maior que é o Orgulho de ser Português.

     
  • 06 setembro, 2006 18:50, Blogger Caiê

    Luísa, que a nossa "identidade" vai mais além, não tenho quaisquer dúvidas; que a nossa "entidade" (citando a sua resposta) vai mais além, isso já é outra conversa... ;) De quem falamos, ao certo? (falta aqui um sorriso...)
    Este interessantíssimo lapsus linguae remete para um dos tais pontos já abordados - falar, escrever, dramas!
    Eu sei que foi o stress, não se preocupe. Esta vida moderna dá cabo de uma jornalista! :)