segunda-feira, janeiro 09, 2006
Mudanças
1 - Começou ontem a campanha eleitoral para as presidenciais do próximo dia 22 de Janeiro. Começou ontem, mas podia era ter acabado ontem tendo em conta o tempo que os candidatos levam de estrada, entre beijos a velhinhas nos mercados e abraços de ocasião entre várias figuras pouco recomendáveis. O senhor Silva foi à Madeira cumprir o abraço laranja da praxe no “rei” Alberto João e Mário Soares aceitou dar um abraço no major Valentim Loureiro. Ou seja, como em qualquer campanha eleitoral que se preze, o circo começou pelo que vale mesmo tudo na caça aos cada vez menos indecisos.
Este prolongar das campanhas eleitorais (uma característica portuguesa destinada a colmatar os tempos mortos do futebol) também tem contribuído sobejamente para o espírito de claque com que a política é acompanhada, impedindo o debate. Já não há debate em Portugal, apenas a elaboração estudada de eventos circenses destinados a alimentar os noticiários televisivos e umas parcas manchetes.
Olhada daqui, a campanha presidencial portuguesa só vem mostrar, como se ainda sobrassem muitas dúvidas, que o regime português precisa de levar uma volta completa. A pobreza franciscana dos discursos eleitorais, a confusão permanente entre o cargo e aquilo que se promete fazer, ou o discurso dos pequenos candidatos, cujo único objectivo é aproveitar o palco para fazer oposição ao governo, mostram uma classe política medíocre.
Vários meses depois de ter começado, há pelo menos uma boa notícia que sobra para os eleitores: se a campanha começou, isso quer dizer que só já faltam quinze dias para acabar.

2 – A PSP de Angra do Heroísmo reuniu-se com os militares da Base das Lajes para abordar o problema dos assaltos a vários militares norte americanos. Só faltou aos portugueses prometer que os roubos não voltam, como se isso dependesse das forças de segurança.
Os americanos – as estatísticas de criminalidade em qualquer cidade do seu país ultrapassam largamente a bonomia açoriana – r4eceberam promessas de campanhas de sensibilização e um dado que escapou à maioria dos observadores: foi criada uma comissão que vai reunir de três em três meses para observar o sucesso das medidas a aplicar.
Neste campo, os americanos é que a sabem toda: há dezenas de roubos aos moradores portugueses dos Biscoitos? Pois há, mas não se pode fazer nada. Dezenas de assaltos em Angra, outras dezenas na Fajã de Cima, na de Baixo, na Calheta ou em Santa Clara? Pois há. Não há é cidadãos americanos a queixar-se para imediatamente captar a atenção da nossa polícia.
A forma como a polícia dá tratamento de privilégio a meia dúzia de cidadãos americanos por oposição à inactividade com que encara os assaltos a portugueses de todas as ilhas são uma nova forma de insulto a todos aqueles que vivem sob nacionalidade portuguesa. Há por aí, pelo menos, uma dezena de presidentes de Junta de Freguesia que ouvem todos os dias reclamações dos seus eleitores por causa dos assaltos e que nunca conseguiram, sequer, entrar numa esquadra da PSP para estudar formas de colaboração com a polícia.
Por isso, já sabe, se quer chamar a atenção da PSP para os problemas de criminalidade, o melhor é mudar de nacionalidade.
Publicado na edição de hoje do Jornal dos Açores.
 
Postado por nuno mendes em 1/09/2006 |


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