quinta-feira, maio 24, 2007
Tomem lá um "copy paste" e não piem

O senhor secretário regional da Presidência mostrou-se quarta-feira muito ofendido com as críticas do PSD sobre a falta de resposta ao requerimentos da oposição. Em declarações à RTP/Açores, Vasco Cordeiro disse, e cito de cor, que o governo respondeu a 97 por cento dos requerimentos e chamou incompetentes aos responsáveis do maior partido da oposição.

O que o senhor secretário não disse é que muitas das "respostas" ignoram literalmente o que foi perguntado. Das duas, uma: o governo tem algo a esconder ou está, pura e simplesmente, a gozar com os deputados da oposição, agindo de forma prepotente.

Este requerimento é um exemplo claro dessa atitude do governo regional. Entre a diversa informação solicitada, o PSD pediu o valor da taxa de ocupação dos voos entre o continente e os Açores em 2004 e 2005, discriminado rota a rota. O governo regional respondeu fazendo "copy paste" das estatísticas da ANA sobre o movimento de passageiros nos aeroportos que a empresa gere na Região (com excepção das Flores), a que juntou dados da aerogare civil das Lajes e da SATA, responsável pelo aeroporto do Pico.

Não é preciso ser especialista no assunto para perceber que o movimento nos aeroportos nada tem a ver com a taxa de ocupação dos voos! Ora, tal atitude é própria de quem julga que não tem de prestar contas e considera inimigos todos os que pensam de maneira diferente. Qual liberdade, qual tolerância, qual quê! É no que dá confundir maioria absoluta com poder absoluto.

Esta atitude contrasta com a do governo da República, que por sinal também é socialista e tem maioria. Recentemente, os deputados do PSD/Açores na Assembleia da República também solicitaram o valor da taxa de ocupação dos voos entre o continente e os Açores. E receberam uma resposta digna desse nome. O requerimento não está na página do parlamento nacional, mas deixo aqui uma cópia do quadro com todos os dados pedidos, enviado aos deputados pelo governo central. É certo que só inclui números relativos à TAP, ou não fosse esta companhia tutelada pelo governo da República, enquanto que a SATA é tutelada pelo governo regional.

O que o senhor secretário regional da Presidência também se esqueceu de referir foi a existência de requerimentos engavetados há anos. Talvez muitos já não se recordem, mas em 2001 o governo regional organizou nas Furnas um célebre curso de formação para os secretários regionais sobre as melhores formas de domesticar jornalistas. Ainda hoje ninguém sabe se o curso foi pago pelos contribuintes ou pelos participantes. Um requerimento a solicitar essa informação, enviado a 13 de Março de 2001, continua sem resposta. Há coisas estranhas, não há?

A caixa de comentários está pronta a receber as críticas, insinuações, ataques e insultos habituais. Mas não vale fazer "copy paste".

 
Postado por Rui Lucas em 5/24/2007 |


10 Comments:


  • 24 maio, 2007 10:36, Blogger nuno mendes

    antes que comecem novamente: os dois comentários que aqui estiveram durante não sei quanto tempo foram apagados pelo administrador nuno mendes.
    como em tudo, há limites.
    quem quiser vir aqui contestar ideias, contrapor informações, apontar incongruências, seja o que for, deve fazê-lo e tenho a certeza que todos os sócios desta SA ficarão muito satisfeitos por poder debater o que quer que seja.
    agora quem aqui vem apenas com o intuito de insultar e escrever umas alarvidades pensando que assim consegue diminuir ou menorizar intelectualmente quem quer que seja, está enganado.

     
  • 24 maio, 2007 11:37, Blogger Philomela

    Maus hábitos, maus hábitos! Habituou-se toda a classe política a fazer tábua rasa da transparência e agora custa-lhes aceitar que uns jornalistas ou cidadãos abelhudos possam pedir contas do desempenho do governo. Está na altura de lhes explicar que isso era no tempo das "outras senhoras"...

     
  • 24 maio, 2007 23:09, Blogger PBX

    Há uma certa desonestidade intelectual em classificar o curso como uma forma de "domesticar jornalistas". O texto de Rogério Santos esclarece, sem margem para dúvida, de que se tratou de uma forma de incentivar uma relação eficaz entre a governação e os profissionais da imprensa - algo que é corrente no primado da comunicação em que vivemos: chama-se media training. Isso não impede (até facilita) que o jornalista exerça o seu papel, porque quem tem responsabilidades e não domina estas técnicas, opta pela pior solução: cala-se.

     
  • 25 maio, 2007 03:29, Blogger Rui Lucas

    Caro Pedro (PBX), não nos conhecemos, mas já falámos ao telefone. Daí que passe a tratar-te por tu. "Domesticar jornalistas" - uma expressão criada quando o curso que referi surgiu - ou "media training" são a mesma coisa.

    E estas são situações que não me incomodam nem nunca me preocuparam. Acho, e sempre achei, que os governantes deviam estar preparados para a relação com os media.

    Só que falar em "desonestidade intelectual" é, no mínimo, forçado. Aliás, e vais desculpar-me, não é isso que está em causa no meu post.

    O exemplo apresentado é apenas mais uma prova das contradições entre o discurso e prática deste governo regional.

     
  • 25 maio, 2007 11:19, Blogger nuno mendes

    caríssimos: atenção que essa expressão "domesticar jornalistas" paga direitos de autor aqui ao rapaz. eh eh eh.
    caro lucas,
    devo recordar-te que o requerimento que citas de 2001 como estando atrasado para resposta caducou com a mudança de legislatura em 2004.

     
  • 25 maio, 2007 11:30, Blogger PBX

    Caro Rui,

    concordo com o teor do post, muito esclarecedor sobre como funciona a máquina governativa de César - fornece informações laterais ou incompletas em resposta aos requerimentos da oposição. Mas continuo a pensar que a expressão "domesticar jornalistas" é um atestado de menoridade à classe. E que não é, certamente, a mesma coisa do que media training - que procura, quanto muito, "domesticar" os próprios governantes, ensinando-os a disciplinar e organizar o seu comportamento face à comunicação social. Em relação à expressão "desonestidade intelectual", poderei tê-la utilizado de uma forma desproporcionada em relação à questão de pormenor em discussão, sem pretender ser ofensivo.

    Saudações insulares

     
  • 25 maio, 2007 12:36, Blogger jocaferro

    Desculpem a minha ignorância mas tenho uma pergunta/dúvida:
    -Para obter os dados acerca da taxa de ocupação da SATA e/ou quanto combustível gasta (€€€) um avião é necessário um Requerimento?

    E já agora:
    -O que é uma ou um gate-way?

    PS: como certamente já perceberam a 1ª pergunta é a sério...
    Quanto à segunda espero que Rui Lucas contribua para que as/os gateways não sejam difamados.

     
  • 25 maio, 2007 15:08, Blogger Rui Lucas

    Caro Jocaferro:

    As taxas de ocupação não são públicas, só as próprias companhias as conhecem. Como a SATA é tutelada pelo governo regional, tem todo o sentido que se faça um requerimento.

    A não ser que queiras sugerir que a oposição, pela calada da noite, entre nas instalações da SATA e obtenha a informação.

     
  • 25 maio, 2007 15:48, Blogger jocaferro

    eh... eh... eh...
    Devia ser giro ver a oposição a dar uma de 007!

    Mas estava mesmo a falar a sério acerca da minha ignorância no tocante a este assunto, por isso fiz o aviso.

    Pensava eu que as companhias aéreas portuguesas disponibilizariam estas informações de um forma mais fácil. Aliás penso que só teriam a ganhar com esta "abertura fácil" em vez de ser a saca-rolhas. No fundo são companhias que usufruem da coisa pública.

    Peace, ou como no requerimento - pe-ace, que não minha intenção atacar alguém, ok?

     
  • 25 maio, 2007 22:50, Anonymous Anónimo

    afinal onde está a cópia do quadro com todos os dados pedidos?