quarta-feira, setembro 06, 2006
Antes que batam...
...bato eu. Esta quarta-feira foi um dia particularmente triste para a minha classe profissional. Fez-se péssimo jornalismo, de uma forma que eu não imaginava possível. Tudo devido a uma decisão tomada hoje pelo Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias, que confirmou a proibição das sociedades financeiras que operam nos Açores de beneficiarem da taxa reduzida de IRC em vigor na Região, inferior em 30 por cento à que é praticada no continente. Esta proibição tinha sido decretada em 2002 pela Comissão Europeia e contestada por Portugal, que dela recorreu para o referido tribunal. Infelizmente, dezenas de notícias que surgiram ao longo do dia não explicaram nada disto. Escreveu-se, disse-se e repetiu-se à exaustão, por essa Europa fora, que o regime fiscal dos Açores tinha sido “chumbado”, entre outras barbaridades do género. Em suma, dezenas de demonstrações de incompetência e comodismo que deviam cobrir a minha classe de vergonha. Eu, pelo menos, estou envergonhado. A minha consolação é que nem todos embarcaram neste “chinfrim” idiota. E, para que fique claro, eu também não embarquei. Não por ser melhor que os outros, mas porque me limitei a fazer o que um jornalista que se preze faz: consultar todos os documentos sobre o caso (estão todos disponíveis na Internet) e, em caso de dúvida, falar com as pessoas indicadas. Isto é o básico. Depois, dependendo da criatividade de cada um, há que tentar arranjar algum “valor acrescentado” para o trabalho que se vai fazer, de modo a tentar ultrapassar a concorrência. Mas o básico é obrigatório! E foi esse trabalho básico que faltou a muitos jornalistas. Senão, vejamos:

Portugal cannot permit the legislative body of the Azores islands to cut income and corporate tax rates below those on the mainland, the European Union's highest court held on Wednesday. (Reuters)

O Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias "chumbou" hoje em Estrasburgo o regime fiscal dos Açores, nomeadamente a diminuição até 30 por cento das taxas do imposto sobre o rendimento em relação à legislação nacional. (DN Madeira)

O regime fiscal dos Açores que permitia que todos os agentes económicos beneficiassem de uma diminuição de 30 por cento na taxa de imposto vai acabar. A decisão foi tomada pelo Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias. (SIC)

O Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias em Estrasburgo ‘chumbou’ esta quarta-feira o regime fiscal dos Açores, nomeadamente a diminuição até 30 por cento das taxas do imposto sobre o rendimento em relação à legislação nacional, negando assim dar provimento a um recurso interposto pelo Governo português contra uma decisão da Comissão Europeia. (Correio da Manhã)

Não coloquei aqui nenhum (mau) exemplo açoriano, porque também os houve, apenas por falta de link's. Esses link's existem, isso sim, para algumas notícias que antecederam a decisão do tribunal. No entanto, optei apenas por artigos sobre o anúncio da decisão. Um critério como outro qualquer.
 
Postado por Rui Lucas em 9/06/2006 |


2 Comments:


  • 06 setembro, 2006 21:01, Anonymous Anónimo

    Concordo e acho muito oportuno este post. É uma clara demonstração que os maus exemplos de jornalismo não existem apenas nos Açores. Todavia, há, por vezes, um jornalismo “deficiente” na região! Porquê? Por vários motivos, dava um “tratado”!!!
    No que toca á “minha” RDP, o assunto foi devidamente tratado, excepto numa breve síntese informativa. Aqui, o jornalista acreditou no correspondente da agência Lusa em Bruxelas. Acontece aos melhores. Contudo, nos jornais alargados da RDP, foi sempre referido que esta decisão apenas se aplicava ao sector financeiro.

     
  • 08 setembro, 2006 01:42, Anonymous Anónimo

    Obrigada pela informação. Eu ouvi o disparate na rádio, acreditei e andava aqui com a minha cabeça às voltas com as consequências da suposta decisão do tibunal. É o que acontece a quem acredita em tudo o que ouve. :-(