terça-feira, maio 02, 2006
Tansição pacífica

A falta de uma opinião pública atenta e crítica constitui um dos problemas para a qualidade da vida política regional. Basta ver o que sucedeu recentemente com as alterações introduzidas por Carlos César no governo regional. Noutro local qualquer não teriam faltado comentários, análises, debates. Nos Açores, dos analistas ou dos críticos nem uma palavra. Na blogosfera (onde estes temas costumam constituir motivo para amplas discussões) duas ou três referências e nada mais.

Esta falta de discussão sobre os temas da governação pode muito bem ser generalizada para qualquer outra área da nossa vida comum e nem sequer se confina à actividade governativa. Por exemplo, não se questiona a actuação das autarquias em várias matérias, não se discute nada. E o mal é generalizado: o que disse a oposição sobre estas mudanças políticas? Nada.

As alterações introduzidas por Carlos César no seu governo mostram duas coisas: que o seu discurso sobre mudar e inverter se confinou à Cultura e à Economia. À Cultura pela sua inexistência estrutural e a Economia por ser uma das áreas onde o governo tem vindo a perder o pé. Aliás, das alterações anunciadas por Carlos César não deixa de ser curioso que o presidente tenha decidido desviar a captação de investimento externo para a área de influência da Vice-Presidência. Quando é na secretaria da Economia que supostamente se esperava maior conhecimento das áreas de interesse ou até de projectos regionais que possam merecer a atenção dos investidores.

Outra coincidência, ou talvez não, é o reforço de duas figuras do executivo: Sérgio Ávila e Vasco Cordeiro. Já ninguém duvida que o futuro depois de César trará um destes dois nomes para a liderança do PS/Açores. Como agora se vê, nem o próprio Carlos César duvida que um dos dois será seu sucessor. Ao reforçar as competências dos seus dois delfins, Carlos César dá-lhes espaço político, permite-lhes uma maior presença no espaço público e mostra que na política as transições podem mesmo ser uma corrida de fundo. Não será por causa do presidente que Sérgio Ávila ou Vasco Cordeiro deixarão de ter a oportunidade de enfrentar o PSD quando chegar a altura.

Esta transição pode muito ter começado a ser feita agora e o mais provável é que ninguém tenha dado muito por isso. Além das mudanças de política, as alterações introduzidas por Carlos César mostram o reforço de uma nova geração – a que estava na JS quando o Partido Socialista chegou ao poder. E mostram, ainda, que por muito que os socialista pensem o contrário, o presidente do governo pode estar a preparar-se para sair no final do mandato. Pelo menos, o caminho que tem vindo a ser trilhado está a ser feito com o cuidado necessário para ir deixando todas as hipóteses em aberto. E pelo que se tem visto, ouvido e lido, não será a oposição a prejudicar a estratégia.

* publicado na edicção de hoje do Jornal dosAçores.
 
Postado por nuno mendes em 5/02/2006 |


2 Comments:


  • 02 maio, 2006 17:04, Blogger Pedro Arruda

    eh pá, eu até concordo com a tua crítica à falta de crítica, mas a malta lá por ser blogger também tem direito a fim-de-semana gordo, ou não?
    :)

     
  • 02 maio, 2006 19:04, Blogger gm

    além de que temos de dar descanso uns aos outros eheh

    "...caminho que tem vindo a ser trilhado está a ser feito com o cuidado necessário para ir deixando todas as hipóteses em aberto...."

    Tá tudo dito, e muito bem dito!!!