segunda-feira, dezembro 19, 2005
Sobrevivência
Numa sala de hotel repleta de lugares vazios, Costa Neves regressou ontem à presidência do PSD/Açores. Prometeu trabalhar para a reconciliação do partido e para a reconciliação do partido com a sociedade civil. Cá fora, o povo, o grande ausente do congresso, deve ter continuado inebriado pelo Parque Atlântico e pelas compras de Natal. Do congresso que ontem terminou, só ficou uma certeza: Natalino Viveiros está maior. E foi o único que saiu do Royal Garden Hotel com razões para manter um sorriso.
Os 99 votos que a sua moção obteve só dão a Natalino Viveiros motivos para sorrir. E se não fosse o instinto mercantilista da JSD (que continua a agir apenas para tratar mais de lugares do que de ideias), Costa Neves teria agora uma diferença um pouco mais transpirada para a oposição, que ganhou uma dimensão pouco previsível antes do início do conclave.
Bem vistas as coisas, Costa Neves só tem razões para ficar optimista. Poucos acreditam no sucesso da sua liderança, poucos acreditam no sucesso do PSD/Açores nas regionais de 2008 e quase ninguém acredita que seja desta vez que o partido reencontre o caminho com a sociedade civil. E em política mais vale começar com o mínimo das expectativas em vez do máximo das esperanças, como as últimas regionais se encarregaram de demonstrar.
O PSD/Açores enfrenta agora o desafio da sobrevivência. Sem quadros, afastado dos lugares que dão visibilidade junto da sociedade civil, com cada vez menos interesses para distribuir, o congresso de Ponta Delgada mostrou um partido exaurido, com pouca ou nenhuma chama e com a nítida impressão de que, a cada passo, o PSD se transforma num conjunto em que cada militante dirige a sua própria facção.
Costa Neves terminou o congresso a prometer um contrato de mudança com os açorianos. Vai ser difícil conseguir um contrato de mudança com que, obstinadamente, se recusa a mudar. O que o congresso de Ponta Delgada mostrou foi um partido fechado dentro de uma redoma. Ter um partido, falar ao eleitorado, apresentar projectos e alternativas não é passar três ou quatro dias fechado nos corredores de uma unidade hoteleira a decidir lugares e a ver cada um a tratar de si e poucos a tratar de todos.
publicado na edição de hoje do Jornal dos Açores. A reportagem sobre o encerramento do congresso pode ser vista aqui.
 
Postado por nuno mendes em 12/19/2005 |


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