segunda-feira, dezembro 12, 2005
Autonomistas
1 – Dez anos depois, Cavaco Silva veio aos Açores fazer procissão de fé nas autonomias regionais e no seu contributo para a coesão nacional. O antigo primeiro-ministro mudou de ideias, o que foi reforçado pelos opositores como mais um elemento de prova.
O delírio chegou, inclusivamente, às páginas dos jornais com o secretário da Habitação, José Contente, a escrever um texto no “Açoriano Oriental” verdadeiramente comovente. Cavaco foi um anti-autonomista? Foi. Merece o voto dos açorianos, duvido. Mas, e José Sócrates, o primeiro-ministro que pôs fim à lei das Finanças Regionais. Não merece também partilhar um lugarzinho nas galerias dos anti-autonomistas? O que pensa o candidato Soares da suspensão da lei das Finanças Regionais promovida pelo governo que apoia? Considera o candidato socialista Mário Soares que o desenvolvimento da autonomia se consegue com o regresso dos garrotes financeiros cavaquistas, agora travestidos de tons mais rosa?
As próximas eleições presidenciais não são um referendo contra a inevitabilidade de Cavaco Silva chegar à cadeira presidencial. Nem são uma disputa entre Cavaco Silva e Mário Soares, como se Mário Soares fosse a única figura que pode retirar ao professor a possibilidade de transformar a campanha num passeio tranquilo pela Avenida da Liberdade. Nas próximas presidenciais já há um candidato vencedor: Manuel Alegre, o cidadão que conseguiu furar a partidocracia instalada em Portugal e que, por direito próprio, conseguiu entrar para a galeria dos debates onde, cronicamente, só têm lugar os cidadãos que partem suportados pela máquina dos partidos.
Manuel Alegre parte para esta campanha presidencial como a alternativa. A alternativa ao sebastianismo serôdio de Cavaco Silva e ao despudor soarista de considerar que a República detém título de propriedade.
As próximas eleições presidenciais podem ser uma oportunidade, se calhar a derradeira, para começar a colocar Portugal de volta aos eixos. Manuel Alegre pode ter algumas incoerências (é acusado por isso pelos campeões crónicos das incoerências), mas significa uma voz contra a corrente. Por todos aqueles que pensam que o destino de Portugal não tem de ficar confinado às direcções políticas do bloco central.

2 - O Natal está a chegar e, com ele, a velha questão do abandono do comércio tradicional por oposição ao desenvolvimento forte das grandes superfícies comerciais. A discussão em Ponta Delgada pode ser acompanhada tendo em conta factos simples: há anos e anos que se anda a discutir e debater formas de cativar os consumidores para a baixa citadina. Anos e anos de debate para que tudo fique igual.
Passear no centro de Ponta Delgada continua a ser um desconforto para a maioria dos cidadãos. Continuam a faltar estacionamentos (onde há, os preços cobrados são quase pornográficos), condições de mobilidade e até um problema simples como o excesso de água a cair dos telhados junto às montras continua à espera que os próprios comerciantes (ou alguém por si que nesta terra até para tapar beirais tem de ser o governo ou a câmara a dar o passo em frente) seja ultrapassado.
Já para não falar nos preços. Quem der uma volta pelo comércio tradicional e uma volta pelas grandes superfícies comerciais vai perceber facilmente porque é que o problema se arrasta. E porque é que os chineses são os únicos comerciantes “tradicionais” que não se queixam.
publicado na edição de hoje do Jornal dos Açores.
 
Postado por nuno mendes em 12/12/2005 |


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